terça-feira, 25 de agosto de 2009

Enologia no Candeeiro

Freqüentemente nós freqüentadores do centro-histórico e imediações nos deparamos com uma escolha. Difícil para alguns e imediata para outros. Pinheirense ou Carreteiro? Existem alguns fatores a serem levados em consideração que podem ajudar nessa decisão: preço, qualidade, vitaminas, teor alcoólico... Entretanto para uma compreensão completa dessa questão, temos de analisar a fundo a história sociológica do vinho no mundo pós-Revolução Industrial.

Antes da Revolução Industrial, no mundo medieval, e até renascentista, o vinho era um artigo caseiro, cada família tinha sua plantação de uvas, fazia seu vinho no quintal de casa, e os que não tinham acesso a tanta tecnologia iam a tavernas, se reuniam com amigos ao redor de uma garrafa de cerâmica e apreciavam aquela iguaria artesanal. Os mais nobres tomavam vinhos feitos de uvas especializadas, tratadas com o maior cuidado, e em ocasiões especiais (visitas do papa ou de Napoleão). O consumo de vinho era uma coisa muito mais comensalista, havia todo um ritual ao redor do vinho, o sangue de cristo, talvez até por causa de toda essa liturgia cristã que refletia na mente das pessoas.

Veio a Revolução. As coisas foram ficando mais rápidas. As carroças perdiam cavalos e ganhavam caldeiras de carvão e começavam a soltar fumaça enquanto corriam loucamente pelos campos, pelas plantações de uva. Essa rapidez se refletiu na sociedade. Veio também o motor a explosão, e o carro, e a rapidez se popularizou. As pessoas vão ficando cada vez mais apressadas, num processo desenfreado que continua até hoje. Quem é que ia ter esse tempo todo de ficar esperando as tias irem na vinha pisar nas uvas pra poder encher mais um barrilzinho de vinho pra ficar conversando com a família? O proletariado tinha que correr para as fábricas, apertar parafusos, colocar carvão nas caldeiras, e quanto menos demorasse em suas horas de lazer, mais lucro. Por isso o vinho tinha que ser mais rápido também. Comercializa-se.

É aí que entra o Carreteiro. Nosso querido companheiro nada mais é que uma tentativa pós-Revolução Industrial de popularizar e espalhar o vinho entre as pessoas que não têm tempo a perder pisando em uvas. Sua embalagem reciclável e seu preço acessível entretanto não significam que a qualidade é ruim, como muitos pensam. O Carreteiro tem uma relação custo/benefício muito balanceada. Por benefício leia-se teor alcoólico. Uma garrafa é o suficiente para uma noite alegrinha, e duas ou três para uma noite de um bom rock não muito exagerado. O Carreteiro veio salvar a vida de nós, filhos de uma geração meio beat meio pós-Revolução Industrial, que temos pressa mas que temos tempo, embora gostemos de reclamar da falta dele.

Mas tem a outra face da moeda. O Pinheirense. Toda popularização tem seu lado negativo. O forró, nosso querido forró, saiu desconhecido do sertão, Luiz Gonzaga o levou para os quatro cantos do mundo e hoje a gente vê por aí Forró do Muído, Forrókissó e essas bizarrices. É a popularização. Que bom que o forró passou a ser mais valorizado, mas também peraí. De um lado temos o Carreteiro levando o suco de uva fermentado às camadas menos abastadas, e do outro lado temos o surgimento desta mutação enológica. O Pinheirense. Esse fermentado de uva, maçã e às vezes até abacaxi, segundo ouvi. A plastificação do vinho. Ressaca líqüida. O Pinheirense se valeu dessa abertura proporcionada pela nova sociedade à rapidez e à improvisação, e a levou a um extremo. Um extremo terrível. Um extremo fatal. Sério mesmo. Diga não a Pinheirense, porque é foda.

5 comentários:

  1. puta merda achei muito louco hahahahahahhahaha irado brother!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. entre os dois prefiro o carreteiro. mas o pinheirense não é tão insuportável assim. acho que foi porcausa daquela vez que tu bebeu muito e ficou lost. aí fica com pé atrás. mas o texto ficou massa.

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  4. convenhamos, Carreteiro também né bom assim não. E quanto mais você bebe, pior fica, ao contrário das outras bebidas normais.

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